terça-feira, 20 de outubro de 2009


de Tere Penhabe

Numa mesa de boteco
três viúvas proseavam
a cervejinha do lado
ora riam ora lamentavam
viúva pra todo gosto
boa de glúteo ou de rosto
batiam as que lá estavam.

A prosa tava animada
entre venenos e mimos
quando ao falar no leão
uma lembrou seu marido
que não havia no mundo
pra cuidar bem o seu fundo
como o tal do falecido.

A outra viúva se benzeu
não diga isso menina
ele pode é não gostar
dessa lembrança mesquinha
aprenda a fazer o imposto
se não quiser ter encosto
lá na sua escrivaninha.

Pois eu lhe digo que o meu
(desembestou a fulana)
pra pouca coisa servia
a rigor só para a cama
vivia desmantelado
depois de bem arrumado
me deu foi uma banana.

Bem por isso que eu digo
desde quando faleceu
tinha que ser um dos dois?
antes ele do que eu
que ele descanse em paz
eu fico com o capataz
do sítio onde nasceu.

Foi então que a terceira
das viúvas dessa mesa
entre séria e pesarosa
deu sinal da realeza
eu vou contar pra vocês
que nessa dentre nós três
fui eu quem saiu ilesa.

Ninguém pode contestar
eu amava o falecido
vivemos em harmonia
me orgulho muito disso
mesmo que um acidente
tenha lhe feito doente
bem sabem do acontecido.

Falo é da "mortadela"
que do pobre eu quebrei
Deus no céu e eu na terra
sabe o quanto eu chorei
de remorso e de pesar
com medo de precisar
contentar com ela nissei.

Mas graças a São Longuinho
São José e São Sebastião
nem lembro quantos santos
eu tinha presos na mão
orando pela"mortadela"
que eu precisava dela
pedi até a Santo Antão.

Vai daí que um belo dia
meu lamento aconteceu
meu marido tão amado
de repente ele morreu
o meu mundo veio abaixo
minha vida foi pro taxo
graça e cor ela perdeu.

Igual uma barata tonta
andava pra lá e pra cá
já não via nesse mundo
motivo pra me alegrar
meus dias eram de pranto
sem achar nenhum encanto
passava o tempo a chorar.

Vai daí que me apareceu
um anjo a mando de Deus
tentando me consolar
gastou argumentos seus
quanto mais ela falava
mais o meu pranto jorrava
só queria o marido meu.

Foi então que ela me disse
vamos mudar essa prosa
não chore mais menina
vou lhe fazer uma reza
em breve o falecido
seu tão amado marido
há de lhe buscar na terra.

Aquilo me bateu forte
o choro parou na hora
que diabo de prosa é essa
não quero morrer agora
me aviei com presteza
pois tinha uma certeza:
ele que se vá embora.

Arribei minha cabeça
toquei a sina pra frente
sempre com muita alegria
com fé e muito contente
fiz da vida uma proeza
até chegar nessa mesa
desse jeito transparente.

Assim terminou a noite
das três viúvas santistas
sem nem reclamar da vida
que isso é coisa de petista
entre cervejas e porções
falando dos corações
em versos de cordelista.

Tere Penhabe
Santos, 08/09/2006

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